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George R.R. Martin fala sobre a violência sexual em Game of Thrones



A quarta temporada da série Game of Thrones está chegando na sua metade e as polêmicas não param de surgir. Após alguns acontecimentos, surgiu um amplo debate sobre estupro e o autor George R.R. Martin se viu (mais uma vez) sob a acusação de banalizar a violência sexual com cenas exageradamente explícitas. Em entrevista ao New York Times, ele falou sobre os motivos que o levaram a incluir temas tão pesados em sua história de fantasia medieval.

NYT: Por que você incluiu cenas de estupro e violência sexual nos livros das “Crônicas de Gelo e Fogo”? Que temas queria explorar com essas cenas?

GRRM: Um artista tem a obrigação de dizer a verdade. Meus romances são fantasias épicas, mas inspirados e fundamentados na história. Estupros e violência sexual fizeram parte de todas as guerras já travadas, desde os antigos sumérios até hoje. Omiti-los de uma narrativa centrada na guerra e no poder seria fundamentalmente falso e desonesto e teria prejudicado um dos temas dos livros: que os verdadeiros horrores da história humana não vieram de orcs ou feiticeiros sombrios, mas de nós mesmos. Nós somos os monstros. (E os heróis também). Cada um de nós tem dentro de si a capacidade de fazer o bem e também o mal.

NYT: Alguns críticos dos livros defendem que, mesmo que essas cenas pretendam ilustrar como Westeros é um mundo sombrio e depravado, há uma superdependência desses momentos e em certo ponto eles deixam de ser chocantes e tornam-se até mesmo excitantes. Como você responde a isso?



GRRM: Preciso questionar a ideia de que Westeros é “um mundo sombrio e depravado”. Não é a Disneylândia da idade média e essa foi uma escolha deliberada… mas não é mais sombrio nem mais depravado do que nosso próprio mundo. A história foi escrita com sangue. As atrocidades das “Crônicas de Gelo e Fogo”, sexuais ou não, empalidecem comparadas com o que pode ser encontrado em bons livros de história. Em relação às críticas de que as cenas de violência sexual são excitantes, para mim isso diz mais sobre os críticos do que sobre os livros. Talvez eles tenham achado as cenas excitantes. A maioria dos meus leitores, imagino, leem como elas foram escritas.

Vou dizer que minha filosofia como escritor, desde o início da carreira, tem sido de “mostre, não conte”. Seja o que estiver acontecendo nos livros, eu tento colocar o leitor no meio da história, em vez de resumir a ação. Isso exige detalhes sensoriais vívidos. Não quero distanciamento, quero te colocar lá dentro. Quando a cena em questão é de sexo, alguns leitores consideram isso intensamente desconfortável… e isso é dez vezes mais verdadeiro para cenas de violência sexual.

Mas é assim que deve ser. Algumas cenas precisam ser desconfortáveis, perturbadoras, difíceis de ler.

NYT: Conforme seus livros foram adaptados para a TV, quadrinhos e outras mídias, você acha que essas cenas de violência sexual descritas de forma indireta se tornam mais explícitas e chocantes? É um problema em potencial?
GRRM: Os quadrinhos e programas de TV estão nas mãos de outros, que tomam suas próprias decisões artísticas sobre o que vai funcionar em suas respectivas mídias.

[Nani]
Eu particularmente não me sinto incomodada com as tais passagens e cenas de abuso sexual e incesto, não mais do que me sinto com as cenas de violência. É engraçado como as pessoas estão dispostas a aceitar cabeças rolando e intestinos voando, mas se melindram com os estupros e as relações sexuais descritas nos livros e mostradas na série. Martin está certo: não se pode escrever um épico baseado na idade média simplesmente fingir que esse tipo de coisa não acontecia (aliás, acontece). Não acho que os livros façam apologia à violência ou abuso em geral, eles apenas os retratam. Eu confesso que algumas passagens me deixaram desconfortável e chocada, embora muito menos do que quando eu aprendi sobre o nazismo e as atrocidades cometidas contra os judeus, ou sobre o período de escravidão aqui nas Américas.

E vocês? O que vocês acham?


Fontes: http://cinemacomrapadura.com.br/

2 comentários:

  1. Não conheço o livro, a série ou a resenha dos mesmos, mas acredito que uma história fictícia de pouco indigna comparada com a realidade, a qual se quer é preciso ler livros históricos pra notar, basta sentar na frente da TV das 18:00 às 21:00 hs e assistir aos noticiários da semana. É de embrulhar o estômago! Agora quanto à apologia : "em certo ponto eles (os momentos de violência sexual) deixam de ser chocantes e tornam-se até mesmo excitantes.", o autor tem razão: mais diz sobre o caráter de quem considera assim, essas cenas.

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  2. Embora ainda não tenha tido contato com a obra (nem a série nem os livros), também concordo com o ponto do autor de desejar mostrar as atrocidades que estão presentes na própria raça humana. Infelizmente, os humanos muitas vezes só refletem nas coisas quando estas são jogadas explicitamente em suas caras.
    Embora seja um conteúdo mais leve, também retrato estre tipo de calamidade em meus trabalhos, e a intenção é a mesma, levar à reflexão.
    Quanto ao tornar-se excitante, também concordo com ele. É o caráter de quem considera assim coisas como essas.

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